Entrevistas

A luta pelos direitos humanos no Brasil
05/02/2011 - Gilberto Maringoni



 – GILBERTO MARINGONI DE OLIVEIRA é jornalista, cartunista e doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (2006) e graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela mesma universidade (1986). Desenvolve estudos sobre a Formação política e democrática da América Latina voltados para os temas relacionados à imprensa, escravidão, relações internacionais, endividamento público e modelos de desenvolvimento. Atualmente trabalha em parceria com a curadora Denise Carvalho na mostra Direitos Humanos: Imagens do Brasil, em cartaz na Galeria Jenner Augusto, na Sociedade Semear até o dia 03 de junho. Segundo ele, o tema vai muito além das discussões de ordem jurídica. Os direitos humanos são a ampla participação dos cidadãos nos processos políticos do país.

O que a exposição traz para o público visitante?

 – São 60 imagens que têm o objetivo de mostrar que se nós vivemos em um país melhor atualmente, é porque existe uma história muito dura, que custou o sangue de muita gente, muitas vidas, infelicidades, prisão e muito sofrimento, mas que apesar do terror, é uma história muito bonita. Existem situações extremamente interessantes de heroísmo, de desprendimento pessoal. Ao mesmo tempo existem situações de canalhice, opressão e autoritarismo por parte da ditadura e dos setores dominantes da sociedade que muitas vezes procuraram oprimir a voz dos menos favorecidos.

No decorrer da história dos direitos humanos existe algum fator comum a todas as sociedades que culminou em mudanças políticas?

 – Essa idéia de direitos humanos é um conceito relativamente novo, com aproximadamente uns cem anos. No século XIX, no Brasil, não se falava em direitos humanos. Metade da população era escrava e ninguém se importava com isso, era algo natural. Passou a se tornar uma luta para diminuir o sofrimento de uma parcela da sociedade para procurar dar um pouco mais de igualdade ao país. Só recentemente percebemos que aquilo foi uma luta pelos direitos humanos. Portanto cada sociedade, em sua determinada época luta por democracia, por melhores condições de trabalho, para ser livre, para se expressar. Depois ao olhar o passado, identificamos que isso é parte da luta pelos direitos fundamentais do cidadão. O direito à vida, dignidade, saúde, diversidade, igualdade de gêneros, raça, opção sexual... O Tiradentes, por exemplo, não tinha nenhuma consciência de que estaria libertando o Brasil ao lutar contra os impostos da coroa portuguesa. Era uma reivindicação de alguns comerciantes da região de Ouro Preto, mas colocou em xeque o modelo de dominação colonial, porque que toca em um dos pontos centrais de articulação entre metrópole e colônia, que era a taxação dos impostos. Outro bom exemplo é o Zumbi dos Palmares, que na verdade não lutava pela libertação dos escravos em geral, e sim pelos amigos e familiares que eram agredidos, violentados. Mas quando se olha pra trás se percebe que na verdade era uma luta contra a escravidão.

A exposição Direitos Humanos: Imagens do Brasil é uma síntese do livro homônimo que traz 156 imagens históricas que contam a história da luta pelos direitos humanos no brasil. Como foi compilar 500 anos de história neste trabalho?

 – O Brasil tem uma história de luta popular muito rica. É muito difícil ter que enxugar, tirar algumas coisas até para tornar a exposição mais coerente. Existem por exemplo situações do Estado Novo, como a tortura durante o período de 1930 a 1935, que não estão aqui. Muitas pessoas me chamaram a atenção de coisas que não estão nem no livro, mas que mereciam estar presente por que fazem parte da luta pelos direitos humanos. A questão das ligas camponesas, dos canavieiros do nordeste, outras revoltas do Brasil colônia, também são fundamentais, mas que infelizmente não couberam nessa compilação.

Todos sabem que a história é um meio de enxergar o passado para entender o presente e olhar para o futuro. Nessa perspectiva, quais as mudanças que você considera necessárias para o nosso país atualmente?

 – Eu considero a desigualdade social um fator primordial. Embora ela tenha se reduzido um pouco nos últimos anos, a gente precisa cumprir ainda certas etapas democráticas, como a reforma agrária, a fim de desconcentrar as propriedades rurais. Não levar para a cadeia um indivíduo só porque ele é pobre, negro, indígena, homossexual... A justiça precisa ser mais equânime, mas primeiro devemos reduzir esse problema da desigualdade social que é muito acentuada. Como você disse, o historiador tem que pensar no presente e no futuro. O saudosista é um mau historiador. O passado é apenas o objeto de trabalho. Eu não gostaria de morar no Brasil de quarenta anos atrás. Prefiro morar no Brasil de hoje, muito melhor, com uma potencialidade imensa.

 
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