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Xico Sá vem a Aracaju falar sobre
Alice Thomaz

19/11/2004, 06:20
Uma viagem pelo semi-árido brasileiro. Foi esta a tarefa destinada a Xico Sá e U.Dettmar. A convite do Banco do Nordeste o jornalista e o fotógrafo, respectivamente, percorreram os nove estados nordestinos, o norte de Minas Gerais e parte de São Paulo, com a missão de revelar a “nova geografia da fome” e as iniciativas públicas e privadas desenvolvidas no sentido de combater esse mal ainda existente no Brasil.

O desafio durou um ano e resultou numa exposição com textos e fotografias colhidas no percurso, bem como no livro “Nova Geografia da Fome”, título escolhido em homenagem a Josué de Castro, médico, geógrafo e antropólogo pernambucano, que em 1946 já denunciava os problemas da fome no país. Além disso, o trabalho desenvolvido deu origem a uma série de reportagens que foram publicadas semanalmente por mais de 50 jornais em todo o Brasil. E numa série de programas de rádio retransmitidos localmente.

Foi exatamente para falar um pouco dessa experiência que Xico Sá veio a Aracaju. A palestra aconteceu na noite de 18 de novembro, na Sociedade Semear, onde também se encontra, até o dia 1º de dezembro a exposição. Durante o evento Xico falou sobre os mais variados aspectos e motivações que o conduziram ao longo deste um ano de trabalho. “Muitas vezes escolhi a localidade que iríamos visitar pelo nome e pela simbologia que elas trazem. Cidades como Delmiro Golveia, Canudos, Poço Redondo trazem uma forte carga histórica. Outras chamam a atenção pelo nome Nova York/MA, Vila Tolstoy/SP e Barcelona/RN são alguns exemplos”, conta Xico.

O jornalista relata também como surpreendente é o universo semi-árido e o quanto difícil foi o processo de edição do material. “Eu já havia estado em alguns desses lugares trabalhando para outros jornais, mas sempre compressa, ficava um, dois dias. Já saía da redação com um título pronto, com uma visão preconcebida, preconceituosa. Dessa vez não. Chegava na localidade eu não tinha data pra sair. Ia para a feira, comia no lugar, sentava conversava com um e com outro, num ritmo que me permitiu ter uma outra visão e mais noção da vida deles”, comenta.

Contudo, Xico ressalta que o objetivo do livro não foi mostrar somente a miséria e o povo dessa região como coitados. Muito pelo contrário. Ele faz questão de chamar a atenção para o constante humor do sertanejo. Sua capacidade de sorrir, contar histórias, além de sua imensa humanidade, que o faz ser capaz de dividir o quase nada que tem com aquele que chega, mesmo sem nunca tê-lo visto. “Você mergulha na vida de outro tipo de pessoa. Uma gente muito generosa e solidária, embora vivam num estado de miséria. Tem casos de a gente chegar na casa de pessoas seis, sete horas da noite, procurando lugar pra dormir e conseguir não só a dormida, mas também, ver a dona da casa correr no poleiro pegar a galinha e preparar pra você comer, mesmo só tendo duas galinhas no galinheiro”, relata o jornalista.

Xico conta que em algumas localidades pouca coisa mudou. Noutras, todavia, as condições melhoraram com a chegada de programas não só do governo como também de muitas Organizações Não Governamentais – ONGs. “Tem muita coisa boa sendo feita. O projeto de instalação de cisternas no interior do Rio Grande do Norte, ou o de uso de painéis solar em Canindé. A própria aposentadoria rural melhorou muito, por exemplo, a vida dos idosos que antes eram rejeitados pela família e hoje, muitas vezes, criam netos e movimentam o comércio local”, explica.

O desenvolvimento do trabalho resultou ainda em uma outra mudança. Xico confessa que ele mudou bastante com essa experiência. “Mexeu muito comigo. Não foi só uma grande reportagem. Foi uma viajem meio até do ponto de vista espiritual. Eu já estava a um tempão em São Paulo, e apesar de ser nordestino, estava meio afastado. Foi um mergulho que eu mudei bastante depois disso. Meu ritmo e jeito de ser foi completamente alterado depois dessa viajem”, conta o jornalista, que depois dessa experiência deixou de trabalhar em redações e hoje só desenvolve sua atividade em casa.

A exposição “Nova Geografia da Fome”, fica em cartaz até o dia 1º de dezembro, na Galeria do espaço Cultural Semear, das 14 às 20h. O endereço é Rua Vila Cristina, 148 – Centro e o telefone para contato: (xx79) 214-5800.
Por Alice Thomaz

FONTE: Infonet - Ultima Atualização: 28/12/2010

 
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