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Pra que serve a arte?* Gustavo Costa**
Para responder a essa questão não vamos recorrer à velha tentativa de elucidar o conceito do que seja arte. Diversos teóricos, ao longo de muitas décadas e através de muita dedicação e estudo árduo, tentaram em vão encontrar uma definição perfeita. O que nenhum discorda, porém, é do poder que a arte possui de expressar e mexer com as mais diversas e profundas emoções escondidas no âmago de cada um de nós.
No entanto, esses sentimentos não são (e não devem ser) somente os mais amáveis e belos retratos da vida doce e romântica permeadas de moral e bons costumes. A arte vem do mundo, e o mundo também é feito do bizarro, do grotesco e do subversivo. Por isso, o insulto, a extravagância e a violência também fazem parte do objeto artístico. Chocar a opinião pública é uma forma de cumprir uma das tarefas essenciais da arte, a de agitar os reflexos do futuro.
Quando Marcel Duchamp exibiu um mictório na exposição organizada pela Sociedade de Artistas Independentes de Nova York, em 1917, a idéia era justamente suscitar o debate a cerca do propósito da arte e o que determinava o status atribuído ao objeto artístico. Outros movimentos originários desta mesma época, a exemplo do modernismo introduzido no Brasil através da Semana de Arte Moderna de 1922, buscavam de igual maneira destruir para recriar.
Misturar duas ideias tão distintas só é possível através da expressão artística. Isso se deve não só ao domínio da arte sobre o não-racional, o indizível, o metafísico, mas também ao poder que a arte possui de se renovar (ainda que algumas vezes pareça sempre a mesma). A própria tentativa de desconstrução, a antiarte, acaba sendo incorporada ao fazer artístico.
A aprendizagem através da arte foge ao modelo educacional tradicional. É uma transformação subjetiva, que aguça o olhar do ser humano sobre o mundo à sua volta e proporciona uma riqueza cultural inigualável. Mas para deixar a arte cumprir o seu papel transformador requer estar aberto à interação entre o artista, a obra e o espectador, quaisquer que sejam as emoções por ela provocadas.
Experimentar, seja na produção artística ou na sua apreciação, não pode estar submetido às mesmas normas do dia-a-dia. Nos palcos, nas telas, nos livros, o artista tem o seu próprio tempo, suas próprias leis, e para ser bem sincero, não precisa ser levado tão a sério assim. Até porque, o artista nunca foi, e nunca será “exemplo” para ninguém. Seu papel é provocar, incitar e mexer com nossos sentidos. Estar preso aos preceitos morais do tempo presente impõe uma barreira ao experimentalismo.
No entanto, ainda que a sociedade encontre dificuldades para se libertar dos seus grilhões, a arte se manterá sempre à frente do seu tempo, e com ela, os artistas. Como atestou André Breton em seu Manifesto Surrealista, “não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação.”
*Artigo originalmente publicado nos jornais Correio de Sergipe e Jornal do Dia e no blog do jornalista Cláudio Nunes em 02/02/2012, com alterações do autor.
** Gustavo Costa é graduando em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe, estagiário da Assessoria de Comunicação da Sociedade Semear e amante inveterado de todas as formas de arte.
BIBLIOGRAFIA:
BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica. In: A Idéia do Cinema, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, pp. 55-95.
COLI, Jorge. O que é Arte. São Paulo, 2006, Editora Brasiliense.
MASAFRET, Ivan et al. Artes Visuais Sergipe – Conexões 2010. Aracaju, 2010. Sociedade Semear.
FARTHING, Stephen. Tudo Sobre Arte. Rio de Janeiro, 2011. Editora Sextante.
BRETON, André. Manifesto do Surrealismo. 1924. Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/breton.htm Acesso em: 23 de fevereiro de 2012, às 18h32.
Ultima Atualização: 27/02/2012
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