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ISMAEL LEMBRA ISMAEL Romeu de Mello Loureiro
Quando, em 1988, foi convidado a participar do livro-álbum Arte Contemporânea das Alagoas – no qual catalogamos cinqüenta artistas plásticos aqui atuantes – Ismael Pereira já gozava de renome nacional, como legítimo representante do Neoregionalismo Nordestino. Registrando uma sociedade rural que já tinha os dias contados, suas obras retratavam figuras típicas locais, de feições melancólicas (beirantes a impassibilidade) tratadas em tons terrosos, como a lembrar que, no Nordeste de então, os homens nasciam da Terra e a ela teriam de permanecer presos... se não emigrassem para capital. Chegou um tempo, porém, em que esses condicionamentos figurativos regionalistas começaram a sufocar a criatividade do pintor – e ele teve coragem de renovar-se, formalmente. Primeiro criou a série Guerreiro das Alagoas, na qual os característicos chapéus dos integrantes desse folguedo popular inspiraram-lhe instigantes composições geométricas, cujas linhas retas seriam “quebradas” por estratégicas colagens da tradicional chita. Depois, com a Série Jangada das Alagoas, mostrando velas reduzidas a simples triângulos, agrupadas em sobreposições, ou servindo de suportes de elementos decorativos e até mesmo logomarcas empresariais. Mais inovadora, ainda, a Série dos Cajus, na qual não hesitou em desconstruir a fruta-símbolo de sua terra natal, a ponto de transformá-la o mais amplamente possível alargando as asas da sua criatividade. De repente, um intermezzo: o artista “descobriu” a mandala e dela se apropriou para criar composições de tamanha minudência de detalhes que mais parecem saída das mãos de fada das nossas bordadeiras e rendeiras. Aos poucos, porém, as cores – que o artista vinha mantendo rebaixadas e aprisionadas pelos traços fortes do seu desenho – começaram a liberta-se. Inicialmente, nas novas séries de figuras do Reisado e do Guerreiro. A seguir de modo mais radical, na Série dos Galos de Briga, na qual as cores já criavam sozinhas as formas pretendidas – isoladas ou afrontadas. Dando mais um passo, Ismael Pereira dispensa essas últimas referencias miméticas, deixando que as cores explodissem, com estupefaciente riqueza de nuances, em composições resolutamente abstratas. Chegando, assim, ao abstracionismo informal, Ismael Pereira enfrentou o desafio de emprestar um “sotaque” nordestino àquela linguagem – tornada universal, graças aos modernos meios de comunicação. Criando uma singular luminosidade interna (a lembrar a luz alumbrante da atmosfera nordestina), o artista conseguiu marcar, com um cunho pessoal, próprio e inconfundível, as suas obras, individualizando-se, em meio ao universo informal globalizado e massificante. Vale ressaltar que, paralelamente à pintura de cavalete, Ismael Pereira vem transformando objetos de cerâmica popular em autênticas obras de Arte, ao revesti-los com um tratamento pictórico personalíssimo, que os torna peças únicas. Uma prática que, indubitavelmente, configura uma ligação umbilical com as tradições regionais. Ao realizar mais uma exposição na conceituada Galeria Genner Augusto/Semear, desta feita a “Exaltação ao caju”, Ismael Pereira, mostra o quanto é capaz de tratar temas pontuais com singular e convincente grandeza, confirmando que, Ismael lembra Ismael.
FONTE: Catálogo : Exaltação ao Caju /Ismael Pereira - Ultima Atualização: 27/04/2014
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