A festa, celebrada com muita música, comidas
típicas, danças, gestos e performances, é uma representação da luta do negro
escravo pela conquista da liberdade. Os Caboclinhos, índios catequizados
pelas missões jesuítas, participam do evento figurando como “auxiliares de
captura” dos escravos fugitivos e refugiados nos quilombos.
Desde o final do século XIX, em todos os segundos
domingos do mês de outubro, ocorre esse tradicional embate nas ruas calçadas de
pedras de Laranjeiras, Patrimônio Histórico Nacional. Os protagonistas são os
habitantes da cidade, os visitantes curiosos e os vários turistas, que são
seduzidos pelo forte apelo popular da manifestação cultural, e tornam-se
coadjuvanes do folguedo.
A cidade é tomada pelo aroma do mel de cabaú que,
mesclado à tinta preta, cobre todo o corpo dos Lambe-sujos, deixando à
vista o expressivo olhar dos personagens e o vigoroso vermelho dos gorros. As
armas são foices manipuladas por mãos calejadas que trazem a marca do trabalho
escravo nos canaviais. Chupetas e cachimbos completam a caracterização. Já os Caboclinhos,
pintados de tinta vermelha, armados com arcos e flechas e ornados com penas, à
moda indígena, formam pequenos grupos que entram em cena para perseguir os
escravos fugitivos. Os Lambe-sujos são irreverentes, enquanto os Caboclinhos
são mais contidos, como guerreiros sempre aptos à luta.
O evento começa no sábado, com o cortejo que
percorre as feiras livres e o mercado municipal. O objetivo é angariar
alimentos que serão utilizados no almoço oferecido no dia seguinte a todos os
participantes do evento. O domingo já amanhece em festa, com muito som feito
por diferentes instrumentos. Os desfiles acontecem durante todo o dia pelas
estreitas ruas da cidade. As pessoas que não atendem aos pedidos de donativos
dos Lambe-sujos são meladas pela tinta preta, fato que dá o tom da
brincadeira. Depois do almoço, ocorre o ápice da festa, quando as princesas dos
Lambe-sujos são sequestradas e inicia-se a “guerra”. Os negros são
vencidos.
Márcio Garcez transita em ambos os grupos com imparcialidade para
buscar a melhor imagem. Atualmente, é um dos mais requisitados e premiados
fotógrafos da nova geração de sergipanos. Não sem razão, foi selecionado em
edital nacional, com o conceito “A” pela Comissão Consultiva do Espaço Cultural
da Câmara dos Deputados, em Brasília.
“A fotografia
é realmente uma busca de permanência, é o lugar da insistência da memória
contra o inexorável esquecimento, é um caminho na busca do perene”, comenta
Ézio Deda – Curador, arquiteto e escritor
MÁRCIO GARCEZ
Nascido em 14 de setembro de 1970, em Aracaju – SE,
Garcez graduou-se em Comunicação Social, Rádio e TV pela Universidade
Federal de Sergipe. Especializou-se em fotografar gente. Foi eleito presidente
da Associação Sergipana dos Amigos da Fotografia em 1997 e realizou a VI Semana
Sergipana de Fotografia. É membro da comissão de Fiscalização e Registro do
Sindicato dos Jornalistas de Sergipe e ex-diretor de Comunicação e Eventos da
Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematrográficos do seu
estado. Dentre vários prêmios e participações em exposições, algumas se
destacam.
Em 1995, foi finalista na categoria fotografia no
concurso Art Dzarm, promovido pela Revista Capricho, e realizou
exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM.
Em 1996, ficou nos 1º e 2 º
lugares nas categorias paisagem e retratos de família, respectivamente, no II
Concurso Diafragma em São Paulo. Em 1997, 1999 e 2000 venceu a
Expocom/Intercom, na categoria fotografia artística com o trabalho “Ruídos”.
Em 1998, foi eleito o Fotógrafo
do Ano pelo Jornal O Capital e, em 2004, pela Revista Aracaju
Magazine.
Em 2007, venceu o 32º Prêmio
Abril de Jornalismo, na categoria Educação. Entre maio e setembro do mesmo
ano, foi responsável pela documentação fotográfica das unidades e projetos da
Petrobrás, Unidade Sergipe-Alagoas.
Em 2012, participou da Exposição Internacional
Fotográfica Itinerante, na Espanha, com tema “Hijas de La Tierra”, que
retratou a presença das mulheres do Movimento dos Sem Terra, em Sergipe.
É parceiro da FolhaPress - Agência de Notícias e Imagens do grupo Folha de
São Paulo.
Tem fotos publicadas em diversas e importantes
revistas, jornais e livros em São Paulo. Dentre elas a Editora Abril, Folha
de São Paulo, jornal Valor Econômico, editora Trip, Companhia das Letras e Isto
é Gente. Além destas, também tem trabalhos publicados na editora Saraiva
e na Revista Época. No Rio Grande do Sul, seus trabalhos estão publicados
no Jornal Zero Hora e, em Sergipe, já produziu para a Petrobras,
Instituto Banese, Grupo Samam e Votorantim.
“Para o fotógrafo Márcio Garcez, não há rivalidade nem vitória entre Lambe-sujos
e Caboclinhos, os dois grupos são lados do mesmo torrão cultural, ele transita
em ambos com a imprescindível imparcialidade de quem busca a verdade, a
justiça, a melhor imagem. O partido dele é a arte; sua arma, a câmera. O seu
compromisso é fotografar e revelar para o mundo a magia desse emblemático e
tradicional evento e o seu triunfo é imortalizar, em imagens, as cenas que se
sucedem durante todo a manifestação”, comentou Mário Britto – Curador e
Procurador do Estado de Sergipe
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