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A CRUZ DE ANTÔNIO Cezar Britto
Logo cedo me ensinaram que todo mundo carrega a cruz que merece. A cruz, neste contexto é apontada como um castigo, uma tortura, uma forma de punição relacionada com algum crime ou pecado cometido pelo infeliz. É bem que verdade que para outros, especialmente os cristãos, a cruz também pode ser entendida como símbolo da redenção, pois intimamente ligada à imagem de Jesus Cristo. Independentemente da versão adotada, é impossível ficar insensível diante de uma cruz. Sua emblemática imagem é sinônimo de permanente reflexão e debate, ainda mais quando carregada do mistério que envolve a sua definição. Até mesmo a sua formação física é controvertida, pois existem cruzes para todos os gostos, formas e credos, da vascaína Cruz de Malta, passando pela Cruz de Lorena ou pela de Santo André, chegando na importante Cruz Vermelha. Conhecendo a Cruz chamada de Antônio, ou melhor dizendo, sendo amigo de Antônio da Cruz, não importa muito a ordem, se percebe que não poderia ter símbolo mais adequado para o seu nome. É que Antônio carrega a cruz de ser um artista que teima fazer de Sergipe um paraíso cultural. Neste caso, não é incorreto afirmar que a punição e a redenção convivem simultaneamente em Antônio da Cruz, não coincidentemente um notável fundidor de idéias e matérias. Participando de seu calvário, que não é diferente da vida de outros talentosos artistas sergipanos, se observa que Antônio Cruz nunca aparentou desânimo, mesmo quando castigado pela ausência de incentivo ou mesmo pela insensibilidade cultural quase autofágica da sociedade sergipana. O que realmente lhe interessa é redimir a cultura, é dizer que a arte sergipana sempre viverá, algumas vezes abandonada, outras ressuscitada após diagnosticada como morta, e não raro nascendo no novo, com novas obras e novos artistas. Não foi sem razão que Antônio da Cruz, reduzindo o tempo dedicado ao trabalho particular, passou a pregar a união dos artistas, sem qualquer preconceito ou medo de ser acusado de praticar heresia. A sua atuação na Galeria Álvaro Santos é um exemplo bem acabado da proposta de inculcar os outros, transformando-os em parceiros ou amantes da arte. A fundição da cultura com a educação e o meio ambiente, característica da ecologia da Sociedade Semear tem, confessadamente, o dedo inspirador do pregador Antônio da Cruz. E como também não poderia deixar de ser, é impossível ficar insensível diante da obra de Cruz, mesmo porque ela não se deixa definir facilmente. E mais uma vez a razão está na boa escolha do nome, pois as obras de Antônio da Cruz são figuras fantásticas que se metamorfoseiam em outras, ganhando novas e indefinidas formas. Todas são únicas, mas ao mesmo tempo são múltiplas, fundindo-se em uma expressão comum e não excludentes: todas são mágicas. As cruzes e as obras de Cruz fazem parte do mesmo mundo encantado, rebelde, sedutor, infinito, reflexivo e convidativo. O artista Antônio da Cruz, pai e filho destas mesmas obras, não poderia guardar para si o que já pertence ao domínio da humanidade. Aprisioná-las no seu atelier seria uma grande heresia, expô-las era, portanto, mais que preciso. Eis porque a Galeria Jenner Augusto, integrada na Sociedade Semear, está tendo o orgulho de acolher a magia fundida na obra de Antônio da Cruz. Eis porque está convidando a todos para que ousem entrar, sem medo ou preconceito, neste mundo único e múltiplo que chamamos de arte, a arte de fazer a vida mais bonita. A Galeria Jenner Augusto prazerosamente carrega em seu espaço as obras de Antônio da Cruz, expostas ao público até o dia 09 de junho.
Ultima Atualização: 28/12/2010
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